A vida começa cedo na fazenda. Tipicamente, acordo pouco depois do sol nascer. A essa hora, Juca, um de meus empregados, já me trouxe o leite. É um homem competente e dedicado, e a vida no campo faz muito bem a ele. Não tem qualquer vontade de se mudar para Hoor, embora recentemente tenha exigido que o filho de doze anos vá estudar lá.
Sua esposa, Judite, trabalha comigo na cozinha. É uma pessoa simples, não fala muito. Judite é bem mais nova que Juca, em uns quinze anos. No início o pai de Judite não apoiava a união, afinal, causou-lhe estranheza que sua filha fosse casar um de seus amigos de infância. Hoje, já se falam normalmente, mas acho que a relação dos dois nunca será como antigamente.
Juca toma o café conosco, e passo para ele as primeiras diretrizes do dia. Ele coordena dá a ordem para os agricultores do pomar, e repassa minhas instruções para os peões das poucas cabeças de gado que tenho.
– Juca, hoje tenho um pedido diferente para você.
– Ara patrão, e o que seria?
– Bem, Marcos me pediu um favor, e irei atendê-lo. Ele quer que achemos a criatura viva mais antiga da fazenda.
– Ara… e que tipo de criatura? – respondeu no seu forte sotaque caipira – é bicho ou gente?
– Não sei. Teremos que procurar pelos dois.
– E pra mo’ de que o padre que isso?
– Bom, isso é coisa dele. Eu não sei exatamente ao certo.
Juca fez o sinal da cruz e beijou a mão.
– Se o senhor Marcos pediu, deve ser coisa do Artíssimo. Pode dexá, patrão, vou procurá esse seu velhote, nem que eu tenha que revirar cada parmo da sua horta.
– É um pomar, Juca.
– Pra mim patrão, tudo que se planta é horta!
Ele deu um sorriso e terminou de abocanhar o pão. Não precisei gastar muito tempo explicando as atividades do dia. A maioria Juca sabia até melhor do que eu. Só me perguntou se devíamos sacrificar um dos cavalos, que estava doente, e respondi que sim. Era um bom animal, mas infelizmente não teria mais chances de sobreviver. Também orientei ele continuar a monitoração da mosca-da-fruta nos pés de manga, elas se tornam um problema sério mais ou menos desse mês, até aproximadamente o primeiro quarto do início do ano. Ele torceu o nariz, como eu já esperava. Ele não fazia isso na hora de plantar a manga, de carregar sacos de adubo, de passar o dia sob o sol colhendo, ou mesmo quando precisava domar um cavalo bravo, mas torcia o nariz quando o assunto era simplesmente visitar os pés e ver se tinhamos muitas ou poucas moscas. Isso porque, segundo ele: “Diacho, isso é trabaio de escritório!”.
Depois, pedi para que preparassem meu cavalo, pois eu iria a Hoor, falar com Marcos e conversar com pessoas na câmara comercial. Pelo menos, agora a busca estaria encaminhada.
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